"Atenção! Tenho movimento às minhas 12 horas".
Afonso dá o alerta para o pequeno microfone que traz agarrado ao camuflado. Está escondido por uma parede de um dos edifícios devolutos do antigo sanatório de Valongo.
A posição é de defesa e só se atreve a espreitar o inimigo quando deixa de ouvir as rajadas de tiros. "Granada!". O berro vem de longe, mas o engenho explode ali perto, deixando o ar repleto de fumo.
São 11 horas e o alto da Serra de Santa Justa está convertido num cenário de guerra.O monte foi, invadido, mais uma vez, por dezenas de praticantes de airsoft (ou softair), um jogo de simulação das operações das forças especiais. Minutos antes de entrarem em acção, já vestidos a rigor, dos pés à cabeça, os homens da equipa adversária prepararam a táctica, decidiram quantos atacavam de cada lado, carregaram as armas e afinaram as frequências dos rádios. Começava o ataque dos vestidos de pretos contra os camuflados.A encosta acidentada dificulta o avanço. Além disso, os anexos do sanatório que é preciso conquistar estão num local demasiado aberto.
Há muitas árvores, mas os troncos finos e queimados por um fogo recente denunciam as posições."Morto! Atenção, vai passar um morto", a frase é recorrente e faz parte do código de honra do airsoft. O alvo atingido tem de levantar a arma e avisar bem alto que está fora de combate. Quem não o fizer sujeita-se a ganhar a alcunha de imortal e a deixar de ser convocado para os jogos. Ali ao lado, são os "mortos" que vão contando as peripécias do jogo.
Francisco, o "rambo", é um fanático de airsoft. "Estamos a preparar uma sessão de 24 horas, com jogos à noite e tudo", diz, enquanto espera que os colegas morram para entrar de novo em acção. Não gosta de estar de fora."Depois de experimentar fica-se logo adepto", adianta Sérgio, tentando explicar o que o leva a levantar-se cedo a um domingo de manhã, a enfrentar o frio e a chuva, e a estafar-se monte acima, monte abaixo, com uma arma aos ombros. Sérgio está desempregado, mas joga todos os fins-de-semana com estudantes, engenheiros, motoristas, ourives, médicos do INEM e até agentes da Brigada de Trânsito.
Uns do Porto, outros de Gaia, Espinho, Valongo, Braga e Guimarães. Combinam por telemóvel, através de blogues na Internet ou deixam a guerra agendada de um fim-de-semana para o outro. "É um vício". No caso de Sérgio deve ser mesmo, já que naquele domingo nem sequer ia jogar por ter a arma avariada. Foi à serra pelo convívio.No campo de batalha, as rajadas continuam. Ouvem-se gritos de todos os lados. Os vestidos de preto contra os camuflados estão nas casas anexas ao sanatório, mas há ataques no edifício principal, na capela, na escola e até no reservatório de água. E não são só as equipas de airsoft que estão no terreno. Há, ainda, praticantes de paintball, uma modalidade semelhante, mas onde não está tão implícito o espírito de guerra.No airsoft, o equipamento dos jogadores é idêntico ao das forças especiais. As armas, por exemplo, são réplicas quase tão perfeitas que passam bem por modelos reais. A diferença está, obviamente, nas munições. São esferas minúsculas que, disparadas de uma distância razoável, não magoam. Não há que ter grandes cuidados em jogo, mas a protecção dos olhos é fundamental.A chuva ameaça cair, mas as tropas não desmoralizam. O rambo é o único sobrevivente do ataque aos anexos. Ninguém descobriu a sua posição de "sniper".
Zonas sob fogo cerradoO antigo sanatório de Valongo é um dos locais predilectos dos praticantes de airsoft, pela diversidade de cenários de guerra que o terreno propicia. A área , completamente abandonada, permite "guerras" no edifício principal, "ataques" na capela, "investidas" na escola e "assaltos" ao reservatório de água.
Em simultâneo com os jogos de airsoft, decorrem, todos os fins-de-semana, jogos de paintball, uma modalidade semelhante ao airsoft, mas com diferenças no tipo de munições (as de paintball pintam o alvo, tornando mais fácil a identificação de um adversário atingido). As armas usadas também são diferentes e no airsoft há maior preocupação em imitar verdadeiros cenários de guerra. Os espaços abandonados e ao ar livre, de preferência com edifícios devolutos, são os mais procurados.
Na freguesia de Campo (Valongo) há terrenos desocupados que costumam ser invadidos por estes "militares" e o mesmo acontece com frequência na Seca do Bacalhau, em Vila Nova de Gaia. Locais próximos de habitação e comércio são proibidos.
Modalidade nasceu no Japão O airsoft (ou softair) é uma modalidade que surgiu no Japão na década de 80. Rapidamente se expandiu ao Ocidente, nomeadamente Europa e Estados Unidos. O nome da actividade está relacionado com o peso das balas (cerca de 0,20 gramas). Os praticantes deste jogo de honra, que se baseia no fairplay do adversário, quadriplicam a cada ano. Quando um jogador é atingido por uma bala deve levantar a arma e dizer bem alto que está "morto".
Quem é atingido e não respeita esta regra ganha a alcunha de "imortal" e deixa de ser convidado para os jogos.
Obrigatório ser maior de idade e federado As armas de airsoft são reconhecidas pela Lei nº 5/2006, de 23 de Fevereiro. De acordo com a legislação, só podem ser vendidas a maiores de 18 anos e o portador tem de estar inscrito numa federação da modalidade, ou seja, na Federação Portuguesa de Airsoft ou na Federação Portuguesa de Tiro Desportivo de Softair. Os infractores estão sujeitos a uma coima que pode ir dos 600 aos seis mil euros.Regras de transportee armazenamento Quando não estão em uso, as armas de airsoft têm de estar posicionadas no modo de segurança. Os jogadores são, ainda, obrigados a accionar o travão à saída do cano. As baterias e carregadores têm obrigatoriamente de ser retirados da arma. Estes procedimentos aplicam-se também ao armazenamento. Ainda segundo a legislação em vigor, as armas têm de ser guardadas em locais seguros, fechados e longe das crianças.
Objectivos de um jogo de honra As regras do jogo são definidas "a priori" pelas equipas que vão entrar em acção. Os objectivos diferem e podem passar por eliminar a equipa adversária, capturar um objecto ou jogador identificado, efectuar uma escolta ou proceder ao ataque/defesa de um perímetro.Óculos especiais para evitar cegueira A bala (esfera plástica de seis milímetros) de uma arma de airsoft não causa ferimentos (apenas contusões se for disparada demasiado perto, o que não é aconselhável). No entanto, se a munição atingir um olho pode causar cegueira. Por isso, é obrigatório o uso de óculos especiais de protecção, com lentes resistentes ao impacto de uma bala.
Réplicas tão perfeitas que até confundem G3, Sig, Kalashnikov, M15, M16 e Fa-Mas são alguns modelos e marcas de armas usadas pelas forças especiais de todo o Mundo, imitadas para airsoft. Há as automáticas, as semi-automáticas eléctricas, a gás ou de funcionamento com mecanismo simples de mola. Na prática, são réplicas quase perfeitas que a curta distância podem induzir em erro até agentes das autoridades. Por essa razão - e pelo eventual alarme que o armamento de airsoft pode causar entre a população geral -, está em discussão a possibilidade das armas virem a ter de ser parcialmente pintadas com uma cor fluorescente.
Actualmente, muitas já têm a ponta do cano pintada de vermelho.Um mundo de acessórios em lojas especializadas Além do equipamento essencial para jogar airsoft, há um mundo de acessórios para os amantes da modalidade. Silenciadores para as armas, tapa-chamas, lança-granadas, binóculos militares, rádios intercomunicadores, lanternas e lasers que se adaptam ao armamento são alguns extras que os praticantes podem adquirir. Há lojas especializadas na modalidade que podem ser visitadas na Internet através dos sites http://www.camuflado.com/ ou http://www.ocaleiro.net/. Balas biodegradáveis para preservar o meio ambiente Um saco de munições para airsoft contém entre duas mil a cinco mil pequenas esferas que, uma vez disparadas, ficam no solo. Para preservar o meio ambiente, já há no mercado balas biodegradáveis.
A Juventude Popular de Valongo, está agradada com esta actividade até porque são estes jovens que dão vivacidade a este espaço enormissimo e que infelizmente está abandonado!!
Mas é com grande preocupação que vemos este local com a componente histórica que representa, ser visitado neste tipo de ocasiões, os jovens podem arranjar outro espaço para praticar esta actividade, até porque os visitantes que passam por Valongo puderiam visitar este monumento uma vez que esteja devidadamente restaurado, e não para ver as "Ruínas do Sanatório"!!
É da Obrigação da Câmara Municipal de Valongo dar vida a este local, uma vez que temos Cultura para explorar, só temos que a aproveitar e evitar que aconteça uma derrocada, até porque alguém pode-se magoar assério!!!
(Vista Nocturna)
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